10/01/2012

Prelúdio da Caminhada

- Max! Aqui! Junte-se a nossa marcha! Não seja mal-criado agora!
- Tem um caminho ali, o que tem lá?
- Possivelmente não é bom, ninguém vai pra lá, a marcha está passando, anda logo.
- Volto já!

E foi-se.

- Pelo menos não tem ninguém mais gritando comigo. - disse.
- Mas agora estás sozinho - respondeu-se.
- Antes só que junto daquela gente - desafiou-se.
- E o que podes sozinho nesse caminho esquisito? - Salientou a si.
- Verás - e pôs-se em xeque.

Vês Maximiliano? Desbravador e louco? Lá está! Subindo sozinho e pior, preso consigo! Ninguém retorna de lá! Ninguém de importante pelo menos.
Ah, Maximiliano... Que pensarão seus pais? Que tragédia, que desgraça! Preparem uma homenagem fúnebre para Maximiliano!

- Cansei-me.
- Há de cansar-se, dias de caminhada sem descanso.
- Preciso sentar um pouco. Um pouco de água. Um pouco de comida.
- Nada tens, na marcha teria de comer, beber e quem sabe uns prazeres a mais...
- E aquilo o que é?
- Para mim uma árvore... Uma macieira!

Ah! Veja ele correndo pra macieira! As maçãs são proibidas por decreto formal na marcha! Como pôde? Criminoso! É agora obrigado que seja punido severamente! Escovaremos seus dentes e lavaremos seu estômago, e aí o reintegraremos se possível for, do contrário como poderemos marchar com o cheiro insuportável das maçãs, Maximiliano?

- Nunca tinha comido maçãs.
- Gostaste?
- Mais que qualquer outra coisa que já comi.
- Veja! Quem é aquele lá?
- Um vagabundo, me parece...

Quanto tempo Sr. Paulo Lâcheté! Sumiu da marcha não deu notícias, agora aí está, um ermitão nojento.
Sr. Lâcheté, não conseguimos escovar seus dentes o suficiente, o cheiro das maçãs não mais saía, não tivemos escolha, Sr. Lacheté, não pode mais participar da nossa marcha, por favor retire-se.

- Quem és tu?
- Paulo Lâcheté, dono de tudo o que visto. E tu?
- Maximiliano.
- Comeste maçãs?
- Sim, estavam ótimas.
- Que pena, meu filho, que pena. Sabes que não poderás mais voltar a marcha, certo?
- Não faz mal, não pretendia retornar mesmo.
- Pensei assim um dia, meu caro, agora veja onde estou, preso aqui sem companhia e infeliz.
- O que te prende?
- O próprio caminho! Tentei avançar, mas me machuquei tanto que voltei para cá! E agora não posso voltar!
- Por que és infeliz?
- Me arrependo de ter comido estas maçãs todas, se tivesse ficado na marcha isso nunca teria acontecido! Nunca! Mas agora que as comeste também não tem escolha, terás que me fazer companhia, não deixarão que retornes.
- Muito tentador Sr. Lâcheté, mas acho que prefiro continuar.
- Estou te avisando, palavra de amigo, o trecho agora é íngreme e perigoso sabe-se lá o que tem depois, é mais seguro ficar aqui, perto da macieira, afinal maçãs são frutas ótimas.
- São ótimas sim, mas tenho certeza que estas frutas me deixariam enjoado depois de alguns dias, passar bem Sr. Lâcheté.
- Bom, até daqui a pouco jovem Max.

Ah... Maximiliano, afaste-se então da marcha. Afaste-se! Não precisam de você! Continuarão a marchar sozinhos e passarão muito bem, comerão sua ração e seguirão rigorosamente essas pegadas no chão e tudo correrá bem, e tudo correrá exatamente como tem que correr, e tudo correrá precisamente da mesma forma que há 15 dias atrás quando marcharam antes de nós, e tudo correrá bem depois e depois. Já contigo, Maximiliano, preso a si e sozinho nesse caminho, continuará a caminhar mas não faz ideia do que te aguarda!

07/01/2012

Sobre comentários polidos pertinentes ao Poder Maior

Já comentei sobre os seres inexistentes que estão em nosso mundo para continuar a ocultar a presença do Poder Maior, mas nunca discorri muito sobre o próprio Poder Maior. É chegada a hora de compensar esta terrível falha.

Vejamos, talvez seja mais produtivo que eu descreva um pouco das relações entre nós mortais e o Poder. A minha em particular é uma relação muito amistosa: eu não ligo pra Ele e Ele não me telefona, assim coexistimos muito pacificamente...

É claro que nem todos os mortais encaram esta relação como uma relação boa (embora eu já tenha destacado que é perfeitamente pacífica), alguns deles insistem para que encaremos o Poder Maior desta ou daquela forma, tocam sua campainha no sábado de manhã para isso (algo que eu encararia como um pecado capital se estivesse no cargo de Poder Maior), agradecem a cada passo minúsculo dado, o que para mim é ao mesmo tempo extrememente prepotente e diminutivo, afinal os mortais são tão incompetentes que não podem dar um passo sem supervisão? E tão importantes num universo tão vasto que algo tão Maior tenha que guiá-los constantemente até seus vasos sanitários?

Não podemos esquecer aqueles que fingem que possuem uma relação com o Poder Maior, pagam-lhe uma visita semanal numa casa que é supostamente Dele, escutam algumas palavras que não questionam, falam algumas palavras que nada significam, fazem alguns pequenos processos mecânicos que nada valem, pensam que são muito melhores, mas na verdade nada são.

Ah... Como pude esquecer há aqueles que declararam guerra ao Poder Maior também, vivem uma relação conturbada, sobretudo discutindo Sua existência, ridicularizando os outros mortais que parecem ter uma relação saudável com Ele e estão felizes com ela, com suas palavras duras e certezas aparentemente bem embasadas...

E o que faz o Poder Maior vendo tudo isso? Interfere?
Nem pensar! E acabar com o melhor programa de comédia que Ele conseguiu inventar nessa parte da eternidade? Gargalhadas estrondosas ecoam nas profundezas do Universo, gargalhadas ecoam graças ao nosso querido planetinha...

Se Ele decidir quebrar nosso acordo e me telefonar para por a conversa em dia, não se preocupem pois a transcreverei na íntegra aqui e tenho certeza de que seria uma conversa muito interessante e estimulante. Até breve!