16/02/2012

Primeiro Movimento: A Sinfonia do Panapanã

Olha! Olha lá! Aquela pobre criatura... Depois de abandonar a Covardia resolve ainda caminhar e sabendo que não mais poderá voltar aventura-se por entre os espinhos. Arranha-se, dilacera-se, mas não é o suficiente. Não, não é. A Covardia desistiu aí e tu, Maximiliano?
Ousas então continuar a caminhar em espinhos cada vez mais densos?
Bom, nada posso fazer por ti, bem sabes.
Não chores! Lágrimas salgadas em tuas feridas ensanguentadas de nada ajudarão no teu suplício.
Mas enfim, o fim do turbulento início, contemple então esta Bela Floresta que, por estar tão longe da marcha, ainda cheia de belezas não deturpadas preserva!

- Preciso lavar-me! Descansar... Meu corpo dói, alguns cortes estão profundos - gemeu o pequeno.
- Ali, uma clareira, segue pra lá e dorme. - Respondeu-se prontamente.

Senta-te! Merecido descanso! À beira de um lago de límpidas águas, mas que magnífico! Mergulha! Fará bem a tuas feridas! A água desse lindo lago servirá de recompensa a tua tão sacrificada jornada.
Certo.
Excelente.
Muito bem.
Agora saias já da água, pois estás me entediando e continue a caminhada por obséquio.
Não sejas mal-criado agora!
...
Aparentas estar bem melhor agora, não?

- Por que está árvore é azul? - perguntou-se.
- Ela não é, são borboletas azuis que a cobrem toda!

Voem! E espalhem-se pelo ar! E circulem, circulem numa nuvem azul e confusa em torno da árvore que antes estavam tão paradinhas.

- Um humano! - disseram muitas vozezinhas em uníssono.
- O que é isso?! - reagiu o menino sem saber exatamente pra onde olhar.
- Eu sou o Panapanã Azul! - continuou a míriade de vozezinhas que saí da nuvem - Como vieste parar aqui, menino?
- Pelo caminho dos espinhos, ainda estou bem ferido, mas estou um pouco melhor depois de tomar um banho ali - e apontou pra lago.
- E o que queres? - indagaram todos os serezinhos em perfeito alinhamento.
- Eu não tenho certeza.
- Aaaaaaah! - e o panapanã debandou, cada borboleta indo para um canto.
- Para onde você foi?
- Como não sabes? - responderam as vozezinhas vindo de toda parte da floresta - Saíste assim? Sem mais nem menos da marcha? Não é comum ver os humanos saírem da marcha, só aqueles que querem alguma coisa. Diga! O que queres?
- Já disse que não sei!
- Aaaaaaaaaaaaah! - as borboletas saíram de todos os espaços das árvores e começaram a voar ao redor de Max
- Vai me deixar tonto assim!
- Se não sabes o que queres, por que não me admira? - as vozezinhas cercavam e confundiam o pobre menino.
- E por que eu faria isso?
- Porque você não tem motivos suficientes para não o fazer e muito menos motivos para ir embora agora.
- Certo - respondeu confuso e relutante, porém sabendo que havia um punhado de razão nas palavras do Panapanã.

Tamanha vaidade desse Panapanã! Veja como faz desenhos pela floresta! Movimentos tão agitados e tão serenos... Criatura arrogante! Tão arrogante que eu poderia passar a tarde inteira apreciando. E é isso que farás Max? Perderá sua tarde apreciando o Panapanã Azul?

- Não te compreendo, o que você ganha se eu te apreciar?
- Absolutamente nada!- E a continuava e dançar e formar desenhos no céu. - Um humano nada pode fazer por mim, mas só por você existo, minha sina é ser seu para apreciar.
- Ainda não compreendo!
- Não compreenda! Não pedi sua compreensão!

Max, ingênuo! Mal sabes que se compreender o Panapanã a pobre criatura morrerá, e de quem será a culpa senão de tua? E de quem será a culpa senão de tua razão?

- Obrigado por me apreciar, pequenino!
- De nada, eu acho.
- Como te sentes?
- Acho que bem... Por isso essa apresentação, não?
- És tão tolinho, pequenino.
- Como assim?!
- Siga naquela direção, e eventualmente sairás da floresta - disse indicando a direção de um caminho estreito por entre as árvores.
- Criatura confusa... - murmurou - Obrigado e adeus!
- Adeus e tome cuidado, pequenino.

Foi-se mais uma vez. Logo vi que este moleque daria trabalho, desde o dia que nasceu! Logo vi que sairia do caminho da marcha. Logo vejo que o pequeno Max não tardará a acabar consigo por sua insolência.

- Outro caminho estreito...
- Vai se aventurar de novo?
- Não tenho escolha.
- Sempre tem.
- Ora, me deixe.

E foi-se.

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