21/07/2012

Segundo Movimento: Réquiem de Fogo e Prata

Caminho estreito novamente, Maximiliano. Mas agora, arranhões e sujeira não te impedirão... As palavras do Panapanã ainda ressoam nessa tua cabecinha oca, não?

- Tolinho? Criatura estranha...
-  Extremamente rude chamar os outros de tolos só por uma pergunta.
- Olha! Uma caverna.

Vejam só onde esse passeio levou, Max! À entrada de uma caverna escura! Isso vai ser muito mais divertido de assistir...

- Tem uma faca na entrada.
- E um bilhete.
- "Mate", parece bem simples.
- Simples demais.

E aí vai ele, sentindo o cheiro úmido da caverna e de queimado vindo dos archotes que alguém tão gentilmente havia acendido para sua caminhada. Ah, Max, se tu soubesses quantos passaram por essa caverna e por seus ritos, estarias disposto a continuar se soubesses o futuro?

- Ali, tem uma câmara grande.
- O que é aquilo no meio?
- ...
- ...
- Um espelho... Tanto mistério, para um espelho e mais outro punhado de tochas.
- Perda de tempo. Vá em frente a saída deve ser ao fundo.
- Não, a câmara é o fim do caminho...
- Então deve estar aqui!
- O que?
- "Mate"!

Impagável tua face, Max! Impagável... Adaga levantada, olhos bem abertos, percorrendo a câmara escura, como um animalzinho encurralado. O que estás esperando, animalzinho?

- Não há nada aqui.
- Só um espelho.

Por que não aproveitas para se pentear? Teus pelos estão desgrenhados.

-Olhe pra mim. Estou sujo e desarrumado... - pensou.
- Como poderia ser diferente, não se banhas mais! - retrucou.
- Arranhado e dolorido... - refletiu.
- Arrasta-te por todo canto! - acusou.
- Com olheiras fundas... - vislumbrou.
- Não dormes, por que está impressionado? - refletiu.
- E um pouco perdido... - admitiu.
- E quando não estiveste? - refletiu.
- O que você quer de mim? - refletiu.
- Eu quero te ajudar. - refletiu.
- Ajudar como? - refletiu.
- Te guiando - refletiu.
- Não parece - refletiu.

O que fazes, Maximiliano? A ponta da adaga não pertence a teu peito. Não faça nenhuma tolice agora.

- "Mate"...

Quanta dor! Quanta agonia! Não achaste que seria tão doloroso, não é? O cheiro e a cor do seu sangue impregna suas roupas e seus gritos enchem a câmara, como os de tantos outros. Mas veja você ainda está vivo, mas que problema...

- Que horror... - dizia tremendo com a mão ainda na adaga cravada.
- Seu monstro! Insano! O que você fez?
- Não é suficiente...
- O que você está fazendo?

Mais! Torça a adaga no teu peito, estás escutando o som do metal dilacerando sua carne? O som do sangue que cai nas vermelhas poças do chão? E da tua voz falhando? E do baque úmido do seu corpo inerte caindo  na vermelhidão?
Se teus olhos pudessem ver... Teu cabelo nas poças, loiros e desgrenhados, uma vez tão bem cuidados, penteados pela mãe, agora tingidos rubros por líquido tão espesso. A posição patética e encolhida em que decidiste cair.
Mas agora teus olhos estão fixos, como se exigissem muito esforço para movê-los e, lentamente, perdem o foco até que nada mais possam enxergar.

Até mais ver, Maximiliano.


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